Em À Beira Mar, Angelina Jolie e Brad Pitt vivem um casal em crise à procura de uma juventude que não lhes pertence mais

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Desde que eu saí do cinema, ao final da sessão de À Beira Mar, eu fiquei pensando o que escreveria sobre o filme. E digo que até agora não faço ideia se eu achei o pior filme do ano e um dos piores de todos os tempos ou se sua diretora, Angelina Jolie, é uma artista brilhante que será reconhecida daqui 50 anos e a história do cinema vai mudar inteira. Bom, eu acho que a opção mais provável é a primeira.

Por Fabiano Liporoni

À Beira Mar é o terceiro filme dirigido pela ótima atriz Angelina. Digo ótima atriz porque é nisso em que ela deveria focar. Seus dois filmes anteriores não são muito bons. Mas com este, ela provou que como roteirista e diretora é melhor ativista.
O filme conta a história de um casal em crise que viaja pela França no final dos anos 1970. Eles se hospedam em um hotel numa cidadezinha paradisíaca.
Ela (Angelina Jolie) é uma ex-bailarina em crise, e como vamos vendo durante o filme, em uma enorme crise principalmente no casamento.
Ele (vivido por seu marido na vida real, Brad Pitt) é um escritor num momento de falta de inspiração.
Ao chegarem ao seu quarto de hotel, eles arrumam a escrivaninha de frente para uma porta balcão com vista para o mais lindo mar Mediterrâneo e ela pergunta pra ele: encontrou sua inspiração? E ele responde, olhando em seus olhos: minha inspiração sempre esteve comigo, ao meu lado. Esse curto diálogo dá o ritmo do filme: ele quer, e ela não. Ele sai do quarto, e ela fica. Ele vai beber, e ela dorme. Ele come no bar ao lado, e ela fica se lamentando sozinha.
Até que ela ouve um barulho do quarto ao lado e descobre um buraco na parede onde pode, sem ser percebida, ver o casal vizinho em sua intimidade.
Em À Beira Mar”, Angelina e Brad, ops, o casal do filme, procura uma “inspiração” para seu drama, procura no casal vizinho a força de uma juventude que não lhes pertence mais, procura numa tímida interação com os locais uma saída de uma vida que parece ser absolutamente reclusa.
Ela, por exemplo, quando vai ao mercadinho comprar alguma coisa, vai toda coberta, de óculos escuros enormes, chapéu e lenço e tudo o que tem direito. Ela parece uma celebridade tentando se esconder o tempo inteiro. Ele já é o cara bacana e amigável que bebe a noite toda no boteco e briga com o dono velhinho e sábio e se desculpa envergonhado no outro dia.
Não preciso dizer que eu passei o filme inteiro pensando no casal do filme como uma metáfora rasa do casal da vida real. O filme é lindo, com uma bela fotografia, cenários deslumbrantes, esteticamente ótimo, mas raso como o prato de comida que a Angelina deve comer todo dia no jantar pra continuar sendo tão magra.
Que ela volte a fazer os filmes de outros diretores bons, ou que se quiser fazer mais um, que pense, pense, pense muito antes, porque desse jeito não dá pra te defender, Angelina. E olha que sou seu fã de carteirinha.

FABLIPOFabiano Liporoni, é colunista da ABSOLUTMAG
Diretor e roteirista de cinema, faz música pra cinema e escreve sobre
o tema aqui e, desde 2004, no seu blog Já Viu? (javiu.wordpress.com)