Tarantino, o maior marqueteiro de Hollywood ataca novamente

(L-R) QUENTIN TARANTINO directs KURT RUSSELL, JENNIFER JASON LEIGH, and TIM ROTH on the set of THE HATEFUL EIGHT. Photo: Andrew Cooper, SMPSP © 2015 The Weinstein Company. All Rights Reserved.
Quentin Tarantino dirige Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh e Tim Roth em Os Oito Odiados

O cara é bom.
Tarantino criou nos últimos 23 anos um estilo próprio, pop até o último fotograma, de fazer cinema.

Por Fabiano Liporoni 

Desde o lançamento de seu Cães de Aluguel, numa sessão da meia-noite regada a atores bêbados no Festival de Cannes de 1992 (eu estava lá, mas não bêbado), Tarantino nos presenteia com filmes que, por piores que sejam, acabam sendo referência da doideira pop no momento de seu lançamento. 
Os Oito Odiados não fica atrás. 
Tudo é muito bem pensado, a começar pelo título.
Esse é o oitavo filme de Quentin, e não por acaso ele tem o mesmo número no título.
O filme se passa no velho oeste americano, onde um caçador de recompensas leva uma prisioneira até uma cidade qualquer para receber seus 10 mil dólares pela cabeça da fofa.
Como pergunta um personagem, ela pode ser entregue viva ou morta, mas ele faz questão de entregá-la viva para garantir o trabalho do “enforcador”.
Sorte nossa porque, num filme praticamente misógino, a melhor personagem é a mulher condenada à forca que fala pouco, mas que quando abre a boca…
Ah, Jennifer Jason Leigh, como eu estava com saudades suas.
A atriz americana, que segundo as lendas é bem difícil de lidar, está de volta às telonas num papel lindo e que com certeza vai garantir algumas boas indicações a prêmios que estão por vir.
Bom, o filme se passa num bar, no meio do ano, onde esse caçador de recompensa e a condenada ficam à espera de uma tempestade de neve passar.
Só que nesse mesmo bar encontram-se outras seis figuras que também fogem da nevasca e também vão pra mesma cidade.
O filme todo é um jogo de detetive: todo mundo desconfia de todo mundo, parece que ninguém é quem diz ser, e esse é o joguinho do roteiro, descobrir se alguém ali também está atrás da recompensa pela cabeça da fofa presa.
Tarantino mais uma vez faz bem, escreve bem, dirige bem, usa seu time de atores amigos da melhor forma possível, xinga todo mundo, coloca um monte de homem discutindo e volta a ter a mulher como coadjuvante que rouba a cena.
Os seus esquemas fílmicos são sempre óbvios, suas cenas são sempre reconhecíveis, seus diálogos sempre me dão a sensação de já terem existido antes, mas mesmo assim seus filmes são imperdíveis.
Dessa vez, ele gastou muito dinheiro filmando em 70mm, para que o filmes seja exibido assim apesar de não existirem mais salas que exibam 70mm.
Filmou na neve, que é um “personagem” importante no filme, talvez o nono odiado.
Mas o mais transgressor dessa vez talvez seja ele lançar um filme violento e explícito no Natal, época de neve nos Estados Unidos, só que da neve fofa do Papai Noel e não da neve como desculpa pra rastros de sangue.
Tudo muito bem pensando, tudo muito bem orquestrado pelo maestro Tarantino e, mais uma vez, todos no cinema pra assistir mais essa fofura de filme.

Veja o trailer: www.youtube.com/watch?v=X77jUwnzEJk

FABLIPOFabiano Liporoni, é colunista da ABSOLUTMAG
Diretor e roteirista de cinema, faz música pra cinema e escreve sobre
o tema aqui e, desde 2004, no seu blog Já Viu? (javiu.wordpress.com)