UM UNIVERSO DOURADO PARA OSCAR WILDE

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A peça In Extremis, do dramaturgo inglês Neil Bartlett, mostra conversa entre o escritor e uma famosa quiromante, uma semana antes do julgamento que causaria a sua ruína.

Por Fabrício Pietro

Estamos em 1895, quando na calada da noite, o célebre escritor Oscar Wilde bate à porta de uma badalada quiromante, a Sra. Robinson. Neste momento, ele está sendo acusado “por cometer atos imorais com diversos rapazes” e será levado a julgamento em uma semana. Ele deseja que essa excêntrica figura mística leia suas mãos e revele os acontecimentos futuros.
Quando o público entra na sala, os atores já estão no palco. Flávio Tolezani é Oscar Wilde (revezando com o diretor Bruno Guida) e Daniel Infantini é Sra. Robinson. As aparências intrigam: barbas e cabelos longos e malcuidados (inclusive para o papel feminino), peles pálidas e veias aparentes, unhas longas e destruídas. Mas tudo tem um propósito: os personagens estão mortos há 120 anos e despertam de seus leitos exclusivamente para reviver esse encontro soturno.
Grandes plataformas de até 25 cm, vestidos apertados e cabelos bem armados ajudam a desconstruir um caminhar perfeito. E aqui vale comentar que Daniel Infantini encara o papel feminino sobre os saltos com talento e destreza surpreendentes.
Mas, neste trabalho, ambos foram além: Flávio se encarregou do cenário, enquanto ao Daniel coube a elaboração do figurino.
Daniel buscou em São João Del Rei sua inspiração: “Sempre pensei no interior das pequenas capelas de São João Del Rei como um pequeno cenário ambulante”. Então, ele abusou de tons dourados, brilhos, tecidos pesados, ricos em textura, bordados e aplicações.
Em vida, Oscar Wilde e Sra. Robinson eram personalidades ricas, exuberantes e donas de egos inflados. Sobre isso, Daniel arremata: “…uma casca aparentemente rica e nobre para esconder uma pessoa infeliz e sozinha. A luminosidade acobertando a escuridão da alma”.
Mas personagens como essas não descem do salto, nem depois de mortas. Neste caso, elas ressurgem destilando seu humor ácido e irônico e provocando boas risadas (nervosas) na plateia.
In Extremis está em cartaz no Teatro Poeirinha, no Rio de Janeiro, até 28 de outubro.

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Daniel Infantini já participou de mais de 20 montagens teatrais. Em 2013 ganhou o prêmio Bibi Ferreira de melhor ator de musical e o Prêmio Qualidade Brasil de melhor ator pelo espetáculo Lampião e Lancelote, com direção de Débora Dubois. Como figurinista, já participou de mais de 50 montagens e recebeu diversos prêmios.

 

FABRÍCIO PIETRO é ator e jornalista. Iniciou a carreira em 2003. Participou de duas novelas e oito peças. Desde 2008 apresenta e coordenada o conteúdo do Espaço Mix, programa de TV com foco em cultura e opinião. Confira algumas entrevistas do Fabrício em youtube.com/programaespacomix.